domingo, 31 de outubro de 2010

MORRE LENTAMENTE-

MORRE  LENTAMENTE

Morre lentamente quem não viaja , quem não lê, quem não ouve música, quem

não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos

os dias os mesmos trajetos. Quem não muda de marca, não se arrisca a

vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o

branco e os pingos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de

emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos

bocejos, coração aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com seu

trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho,

quem não se permite pelo menos uma vez na visa fugir dos conselhos

sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias se queixando da sua má sorte ou da

chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de inicia-lo, não pergunta

sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige

um esforço muito maior que o simples fato de respirar.

Muito mais pessoas estão morrendo a nossa volta do que podemos imaginar,

acreditar ou perceber. As pessoas morrem por não mais acreditarem na

beleza da vida, a força de uma gargalhada, no poder daquilo que grita

dentro do peito delas. As pessoas morrem simplesmente por deixarem de

viver. Não se trata de uma escolha, mas falta de coragem e atitude para

escolher!

Morrer é realmente preciso e positivo quando você deseja renascer maior,

melhor e renovado. Nada pode nascer de novo sem que algo de velho tenha

morrido. No entanto, não aceite a morte lenta, gradual e quase

imperceptível do marasmo, da falta de vontade. Na dificuldade, na dor, não

desista, porque é depois do momento mas escuro da noite que o sol volta a

nascer.





texto de Pablo Neruda

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