sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Eu, o menino e o cachorro...

E eu só reclamava da vida...

reclamava da noite porque eu não dormia,

reclamava do dia porque eu sofria,

reclamava do frio que me gelava a alma,

reclamava do calor que me atirava ao desânimo.



Para tudo e para todos eu tinha uma resposta,

para a minha derrota eu sempre tinha um culpado,

para o meu desamor sempre tinha um "alguém",

para tudo uma reclamação,

eu era o próprio azedume



Ai de quem me criticasse,

que apontasse o erro que eu não enxergava,

para tudo tinha que haver um culpado,

eu era a vítima do sistema, das pessoas, do mundo,

eu sempre fui traído, enganado, sofrido...



Carregava aquela cruz pesada de ódio,

e eu só reclamava da vida,

seja de noite, seja de dia.



Até quem dia, um menino, desses meninos de rua,

me pediu uma ajuda, e eu já estava pronto para ofendê-lo,

quando ele pegou na minha mão e arrastou-me,

se é que um menino tão pequeno teria essa força.

No canto da rua ele me mostrou um cachorro muito sujo,

que estava com a pata como que quebrada e cheio de feridas.

O menino puxou a minha mão e fez chegar perto do cachorro.

Ele olhava pra mim e depois para o cachorro,

e falou numa voz que eu não consigo esquecer:

- Moço, sara ele pra mim! é o meu melhor amigo.



Não sei porque e nem quero saber,

mas eu não aguentei e chorei...

Chorei como criança, como quem abre uma torneira,

como se uma porta que estava fechada

há muito tempo dentro de mim,

se abrisse escancaradamente...



O menino não entendeu o meu choro e perguntou:

- Ele vai morrer moço? è grave assim...



Despertei do meu choro e agarrei aquele cachorro com muito cuidado.

Levei-o até a minha casa, poucos quarteirões dali,

e tratei daquele cachorro como se fosse um filho,

e o menino, que vivia pelas ruas,

foi ficando, e cuidou de mim,

curou minhas feridas,

antes mesmo de eu curar as feridas do cachorro.



Hoje, não reclamo mais de nada,

tudo para mim tem um sentido,

tudo é perfeito, até o que dá errado.

Faz 16 anos que o menino de rua pegou na minha mão,

mudou a minha vida, transformou esse ser.

Mostrou-me o caminho do amor,

amor que restaura, cura, seca feridas, renova,

traz esperança, e esperança é o nome do amor.



E esse menino, que hoje me chama de pai,

destranca portas e janelas da minha alma todos os dias,

quando segura na minha mão e me agradece por cada coisa tão pequena,

os banhos, as roupas, a comida, a escola, a adoção,

coisas que muita gente tem e não dá nenhum valor,

ele me recompensa com carinho e dedicação.



Hoje é a sua formatura, e eu nem sei o que dizer,

sou grato a Deus por ele entrar na minha vida,

por quebrantar meu coração,

e não largar mais a minha mão.



Hoje eu bendigo a vida.

Valorize a sua vida, preencha-a com o amor.



Eu acredito em você



Por Paulo Roberto Gaefke





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