Em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, uma história de uma dessas mulheres de muita fibra.
Sylvia era uma senhora de família tradicional, tinha mais nomes em seu nome quanto a princesa Isabel. Casou-se em um casamento arranjado pelos pais aos 17 anos com o Dr. Carlos Amartscheck, que também era de uma família importante da capital. Desde cedo ela aprendeu a respeitar o marido como se fosse uma “entidade social importante” e assim, ela literalmente “concebeu” 3 filhos que eram o seu maior tesouro.
Depois de 18 anos de casamento e de uma vida tranquila até então, ela recebe a notícia da morte do marido vítima de um ataque do coração fulminante, e isso era apenas a ponta do iceberg de uma história que ela nem imagina existir.
Descobriu que o marido, que posava de senhor dos direitos morais tinha uma amante e morrera nos braços dela após o ato sexual. Isso era apenas o começo de toda uma rede de mentiras que culminava numa única verdade: ela não conhecia aquele homem com quem convivera mais de 20 anos.
Para piorar, ela descobriu que estavam falidos. O marido devia muito na praça e havia penhorado a casa em um banco e que a casa iria para leilão muito em breve.
Por 3 dias e 3 noites Sylvia só fazia chorar. Era o único gesto que ela tinha em conta naquele momento. Sua vida passava em sua mente como em um filme mudo, em branco e preto. O que ela iria fazer com seus filhos e onde viveria dali em diante?
Depois desses 3 dias de luto forçado, ela se dirigiu até o oratório da casa onde costumava fazer as suas orações. Diante da imagem da Virgem Maria, ela foi falando tudo o que havia de preso na garganta, tudo o que havia reprimido por tantos anos. Falou, chorou, falou mais ainda…até que silenciou…
A imagem da Virgem mantinha aquele sorriso generoso, compreensivo de quem já assistiu tudo nesse mundo e diante daquele sorriso, ela ficou pensando no que fazer e como numa inspiração visionária, ela se viu de mudança para o interior, para a casa dos pais, uma casa antiga na região noroeste do Estado.
Agradeceu a Virgem pela inspiração, foi até o quarto e recolheu todas as jóias que tinha. Juntou tudo e saiu pela cidade até uma Joalheria famosa, onde sempre fora cliente conhecida. Hoje veio para vender e acabou descobrindo que quando queremos vender uma jóia que um dia valia milhões, ela tem o seu preço reduzido muitas e muitas vezes. Como tinha muitas jóias e de boa qualidade, ela conseguiu levantar um valor suficiente para passar um tempo com os filhos sem grandes sobressaltos.
Nos dias seguintes preparou tudo para a mudança para o interior. E foi assim que 10 dias depois ela chega a sua cidade natal, numa rua poeirenta de um lugar que começava a mostrar sinais de desenvolvimento comercial. No lugar que na sua infância tinha apenas 2 ou 3 casas hoje fervilhava com uma rua larga e muitas casas comerciais. No final da rua estava a casa onde ela nascera e apesar do estado de abandono, ainda era uma bela casa. Quando abriu a porta que rangeu muito alto, a sala parecia emergir do passado, com velhos móveis e muito pó. Viu que precisaria de muita ajuda, e tratou de contratar os serviços da Dona Zefinha, uma senhora que era filha de uma das empregadas dos seus pais. Foram 7 dias de muita esfregação para dar ao lugar um ar mais de casa habitável e finalmente, ela pode entrar com a mudança e os filhos.
O tempo ia passando e o dinheiro estava acabando e ela não sabia o que iria fazer para sustentar a família e a casa.
O filho mais velho, Pedrinho, com 15 anos, queria arrumar um emprego no comércio local e ela queria que ele terminasse os estudos. Nesse impasse, certa noite, diante do seu oratório em oração, voltou a contemplar o sorriso da Virgem Maria e pediu em oração uma luz para aquela situação. Mentalmente ela viu o livro de receitas que ganhara da sua mãe antes de casar, mas nem se abalou em ir buscá-lo, afinal de contas, o que um livro velho de receitas iria ajudar nesse momento?
Durante 7 dias ela permaneceu em oração sempre com a mesma pergunta: – o que ela iria fazer para sustentar a família?
Nos 7 dias ela via o caderno de receitas em sua mente, cada vez mais claro e nítido. Com tanta insistência mental, ela resolveu procurar o caderno de receitas da mãe e lá descobriu que a mãe caprichosamente fizera uma separação de receitas e abriu justamente na parte dos doces. Folheou algumas receitas e recordava o cheiro e o sabor daqueles doces. Um deles chamou a sua atenção, era um doce cremoso de chocolate com duas cores que a mãe fazia em dias de festa. Resolveu experimentar a receita…
Foi até o comércio local e fez amizade com a Dona Quitéria do Mercado 3 Poderes, e além de uma boa conversa, levou para casa os ingredientes para fazer o doce.
Passou a tarde toda entretida com aquele doce e quando terminou, as crianças queriam acabar logo com aquela gostosura. Realmente ficou uma delícia. Ela com muito custo, separou um pouco para a sua nova amiga, Dona Quitéria lá do mercado. Quando a mulher experimentou o doce quase bateu palmas de tão gostoso e imediatamente teve uma ideia: porque a amiga não fazia aquele doce para vender em potinhos ali?
Bom, para encurtar a história, a Dona Sylvia dessa história, com essa receita tão simples criou um pequeno império de doces que ainda hoje, na sua segunda geração gera empregos para mais de 200 pessoas diretamente e faz a alegria de muita gente louca por doces.
E tudo começou com uma oração, um livro de receitas antigo e o amor ao fazer um doce.