quarta-feira, 30 de junho de 2010

PROCURA-SE UM AMIGO

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter


coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de


poesia, da madrugada, de pássaros, de sol, da lua, do canto dos ventos e das


canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir


falta de não ter esse amor. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os


passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é


preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda


mão. Pode já ter sido enganado, pois, todos os amigos são enganados. Não é


preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar.


Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir


o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal


objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e


compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar


as que não puderam nascer. Procura-se um amigo para gostar dos mesmos


gostos, que se comova quando chamado de amigo. Que saiba conversar de


coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância.


Precisa-se de um amigo para não enlouquecer, para contar o que viu de belo


e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.


Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e caminhos molhados, de


beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.


Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a Vida é


bela, mas porque já se tem um amigo.


Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado


no passado em busca de memórias perdidas. Que bata nos ombros sorrindo


e chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que


ainda se vive.


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